segunda-feira, 9 de junho de 2008

Manifesto Bauhaus

O propósito final de toda a atividade plástica é a construção. Adorná-la era, outrora, a tarefa mais nobre das artes plásticas, componentes inseparáveis da magna arquitetura. Durante o século XIX, a perícia dos artesãos e a beleza das suas obras sucumbiram ao automatismo das máquinas e à monotonia do objeto estandardizado. A produção era muitas vezes determinada pelos próprios fabricantes, sem recurso a qualquer desenhador especializado. Em reação a estes objetos massificados nasceram pequenas escolas oficina que fabricavam utensílios domésticos, mobiliário, têxteis e objetos de metal. Hoje estas estão numa situação de auto-suficiência singular, da qual só se libertarão através da consciente atuação conjunta e coordenada de todos os profissionais. Arquitetos, pintores e escultores devem novamente chegar a conhecer e compreender a estrutura multiforme da construção — na sua totalidade e nas suas partes; só então as suas obras estarão outra vez plenas de espírito arquitetônico que se perdeu na arte de salão. As antigas Escolas de Arte foram incapazes de criar essa unidade, e como poderiam, visto ser a arte coisa que não se ensina? Elas devem voltar a ser oficinas. Esse mundo de desenhadores e artistas deve, por fim, tornar a orientar-se para a construção. Quando o jovem que sente amor pela atividade plástica começar como antigamente, pela aprendizagem de um ofício, o "artista" improdutivo não ficará condenado futuramente ao incompleto exercício da arte, uma vez que sua habilidade fica conservada para a atividade artesanal, onde pode prestar excelentes serviços. Arquitetos, escultores, pintores, todos devemos retornar ao artesanato, pois não existe "arte profissional". Não há nenhuma diferença essencial entre artista e artesão, o artista é uma elevação do artesão, a graça divina, em raros momentos de luz que estão além de sua vontade, faz florescer inconscientemente obras de arte, entretanto, a base do "saber fazer" é indispensável para todo artista. Aí se encontra a fonte de criação artística. Formemos, portanto, uma nova corporação de artesãos, sem a arrogância exclusivista que criava um muro de orgulho entre artesãos e artistas. Desejemos, inventemos, criemos juntos a nova construção do futuro, que enfeixará tudo numa única forma: arquitetura, escultura e pintura que, feita por milhões de mãos de artesãos, se alçará um dia aos céus, como símbolo cristalino de uma nova fé vindoura. Manifesto de Walter Gropius — Weimar, Abril de 1919

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